MESA-REDONDA

Dia 11 de Julho, às 11h – Tema: Mídia e Políticas Culturais

Tema: Nem cultura nem religião: dissonâncias entre a música sacra evangélica e as políticas culturais
Prof. Dr. Joêzer Mendonça (PR)
Oito anos após a promulgação da emenda à Lei nº 8.313/91 de Incentivo à Cultura (“Lei Rouanet”), que reconhecia a música gospel como manifestação cultural e apta a auferir ganhos desta política cultural, as discussões ainda se apresentam marcadas por diferentes ideologias e motivações provenientes dos setores econômico, cultural, político e religioso.
De um lado, vislumbram-se distorções no seu uso no sentido de que os mecanismos legais de incentivo à cultura poderiam ser utilizados para projetos de catequese ou evangelização. Vigora também o entendimento de que a música e a cultura gospel não são passíveis de patrimonialização material ou imaterial, pois entende-se que o gospel não é cultura sacra erudita, não é cultura popular e nem se liga a ritos de matriz afro-brasileira, sendo de origem norte-americana. Mais ainda: sabe-se que a música gospel está fortemente enraizada em um bem-sucedido mercado fonográfico evangélico. De outro lado, a defesa do uso do instrumento legal de renúncia fiscal se baseia na noção de que a música gospel tem origem na cultura afro-americana e que, no Brasil, o gospel não é um estilo, mas um guarda-chuva que abrigaria a diversidade musical, incluindo rock, sertanejo e baião. Em suma: o gospel, primeiramente, não é arte desinteressada e também não é cultura brasileira; quando é reconhecida como cultura, precisa despir-se da religião.
Sant’Anna (2013, p.35) avalia que “o discurso da ‘cultura’ utilizado para a legitimação do gospel, não é apenas uma tentativa de ampliação de recursos para esse mercado ou uma luta por conquista de direitos negados”, mas sim “a construção de um espaço reconhecido na narrativa nacional”. Por outro lado, essa busca por visibilidade na geografia social brasileira, embora permeada por interesses que mesclam fé, negócios e lobby político, também envolve a visibilidade social de uma enorme parcela da população brasileira que consome o gospel. O cruzamento de dados socioeconômicos da pesquisa “Cultura nas Capitais” nos mostra que o gospel é o 3º (24% dos entrevistados) “estilo musical” mais ouvido pelas classes C e o 2º (31%) mais ouvido pelas classes D e E. Por sua vez, entre os evangélicos, a música gospel é a preferida de pentecostais (55%). Entre estes, o consumo gospel é majoritariamente da população negra (24% de pardos e 25% de pretos).
Conforme Silva (2017, p. 155), percebe-se “a existência de uma estratégia engendrada intencionalmente de integração à modernidade e suas expressões hegemônicas no campo religioso ou no campo socioeconômico”. A nova geografia humana e urbana também inclui o campo evangélico, que passa a disputar fatias das políticas culturais do Estado e a ver suas reivindicações atendidas.
Teixeira Coelho (2001, p. 294) avalia que as políticas culturais visam atender uma dupla exigência: a difusão cultural e as demandas dos agentes socioculturais. Nessa perspectiva, ao legitimar oficialmente o “gospel” (também produzido entre católicos, mas sobejamente associado à música sacra evangélica), a emenda à Lei de Incentivo à Cultura atende aos dois tipos de motivação das políticas culturais, pois disponibiliza aos cristãos mecanismos legais para a difusão da cultura gospel e atende às demandas dos atores sociais vinculados à música cristã.
COELHO, Teixeira (org.). Dicionário crítico de política cultural. São Paulo: Iluminuras, 2001.
CULTURA NAS CAPITAIS. São Paulo: JLeiva/DataFolha, 2018. Disponível em www.culturanascapitais.com.br.
SANT’ANA, Raquel. A música gospel e os usos da “arma da cultura”: Reflexões sobre as implicações de uma emenda. In Revista Intratextos, 2013, vol 5, n. 1, p. 23-41.
SILVA, L. R. T. Formação de um patrimônio imaterial evangélico em Fortaleza, Ceará. Geosaberes, Fortaleza, v. 8, n. 16, p. 142-160, set./dez. 2017.

Tema: Mediação Cultural e Ações Políticas no Vicariato de Cultura e Comunicação da Arquidiocese do Rio de Janeiro
Padre Omar Raposo (RJ)

Tema: Oportunidades, caminhos e desafios, na realização de um Festival de Música Sacra no Século XXI
Pablo Castellar

Pablo Castellar apresenta desafios da contemporaneidade bem como oportunidades e soluções para a realização de um festival de música sacra nos tempos atuais. Um festival que nos permita compartilhar, compreender e aprender um com os outros. Onde seja possivel abraçar diversos gêneros musicais, celebrar efemérides e abordar diferentes épocas da história da música sempre promovendo a paz, o diálogo, a união e o respeito a pluralidade de crenças. Que seja includente, diverso e contemporâneo a causas latentes de nossa sociedade e com isso possa mobilizar e trilhar um caminho para sua própria sustentabilidade sem deixar de lado outras fontes tradicionais de recursos.