MESA-REDONDA
Dia 12 de Julho, às 11h – Tema: Memória, Identidade, Inculturação
Tema: De ‘Tra le Sollicitude’ (1903) ao ‘Quirógrafo’ (2003). Musica sacra e teologia no contexto da arte do século XX. Uma reflexão sobre os desafios da musica sacra no contexto de expressões culturas locais.
Dr. Pedro Paulo Alves Santos (RJ)
Doutor em Teologia
Em relação à música sacra, o Concílio Vaticano II: movendo-se na esteira de uma secular tradição, afirma que ela “é um tesouro de inestimável valor, que excede todas as outras expressões de arte, sobretudo porque o canto sagrado, intimamente unido com o texto, constitui parte necessária e integrante da Liturgia solene” (Sacrosanctum Concilium, 112). A atual comunicação insere-se na perspectiva de uma exposição histórica acerca do desenvolvimento do diálogo entre tradição musical cristã (antiga e medieval) e os desafios do ‘aggiornamento’ colocados à música sacra no contexto das igrejas locais/nacionais no século XX, com as aspirações à uma expressão mais caracterizada de suas identidades culturais e estéticas. A tradição bíblica e patrística ressalta a eficiência do canto e da música sacra para mover os corações e elevá-los a fundar, por assim dizer, na própria intimidade da vida de Deus! O Papa João Paulo II, no “Quirógrafo” (2003) observava que, hoje como sempre, três características contra distinguem a música sacra litúrgica: a “santidade”, a “arte verdadeira”, a “universalidade”, isto é, a possibilidade de ser proposta a qualquer povo ou tipo de assembleia. Muitas questões se levantam. Como não ‘congelar’ seu milenar acervo, tornando-o obsoleto e ao mesmo tempo, enfrentar com eficiência a crise entre local e global que perpassa todas as culturas no século XX e reclama um conflito de ‘nacionalização’ de identidade ‘católica’? A musica sacra se insere no cenário dos gostos e horizontes culturais modernos? Quais são os custos e resultados destas operações inevitáveis?
Tema: O Papel da Música Sacra na Construção da Identidade
Profa. Dra. Regina Meirelles (RJ)
Esse palestra tem a intenção de estabelecer que toda música, toda organização dos sons de uma sociedade se constitui de uma ferramenta para criar ou consolidar uma comunidade, uma totalidade. A música é a parte audível das vibrações e signos que formam as sociedades, explicitando todas as faces da vida social. O controle e as apropriações dessa música são reflexos do poder essencialmente político desse grupo social. Com o ruído nasceu a desordem e seu contrário: o mundo.
Foi propósito da música desde seu início, o evocar de emoções coletivas . A partir da relação original de magia- música-sacrifício e ritual pode-se explicar como a atividade musical serviu para se construir a ideia do temor a Deus, da “promessa de reconciliação” dos homens com o divino, sem deixar de mencionar que sua função não visava um sentido estético, mas sim estabelecer na eficácia de sua utilização, a manutenção do poder e da ordem social. Com a música nasceu o poder e seu contrário: a subversão. Por toda parte os códigos analisam, marcam, restringem, reprimem, canalizam os sons primitivos das linguagens dos corpos, das ferramentas, dos objetos, das relações com os outros e consigo mesmo.
A inquietação da manutenção do tonalismo, a primazia da melodia, a desconfiança a respeito das linguagens, dos códigos musicais, dos instrumentos novos, a recusa do “estranho” se encontram em todos esses regimes, traduções explícitas da importância política da repressão cultural e do controle da música. Como nos fala Girard (1972): “A música é paralela à sociedade dos homens, estruturada e mutável como esta. Ela não evolui linearmente, mas imbrica na complexidade e na circularidade dos movimentos da história ». Reflete essa realidade em movimento. Entre a polifonia primitiva, o contraponto clássico, a harmonia tonal, o dodecafonismo serial e a música eletro-acústica, nada há de comum, a não ser um princípio que dá forma aos ruídos, acompanhados das sintaxes cambiantes de suas épocas.
Palavras chaves: Música, ruído, identidade, sociedade, poder.
Tema: Quando nos faltam as palavras: glossolalia, jubilus e música
A glossolalia e o jubilus aleluítico como fenômenos de inculturação no cristianismo primitivo.
Prof. Dr. João Guilherme Ripper (RJ)
Análise da glossolalia e do jubilus aleluítico a partir das teorias linguísticas de Ferdinand de Saussure e do fenômeno da inculturação. A insuficiência da linguagem, o pensamento metafórico e a música. A criação do complexo fonético não discursivo na experiência mítico-religiosa. A necessidade social e religiosa da interpretação. A influência da cultura grega na Carta de São Paulo aos Coríntios que trata da “oração em línguas” e a origem do jubilus aleluítico.